Carbono Neutro e a Conscientização sobre Mudanças Climáticas
O tema das mudanças climáticas é preocupante e tem sido cada vez mais discutido globalmente, visto que os desastres ambientais causados por eventos climáticos extremos, como tempestades, enchentes, secas, incêndios florestais, elevação do nível do mar, tornados, furacões e outros, afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas atingidas. Além disso, é importante lembrar que todos estamos expostos a estes desastres e que estes também impactam na economia da região afetada.
O aquecimento global tem influência sobre as mudanças climáticas e pode acentua-las. A principal causa do aquecimento global e das mudanças no clima é o aumento da emissão de gases de efeito estufa (GEE) por ações antrópicas. De acordo com estudos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) comprovaram que a ação humana tem intensificado e provocado essas mudanças, principalmente por conta da emissão em excesso de GEEs, seja por queima de combustíveis fósseis para geração de energia ou por desmatamento.
Diante disso, o cenário ideal para minimizar as mudanças climáticas é que as emissões de GEE sejam neutralizadas, por meio de processos produtivos mais eficientes e mais sustentáveis.
No contexto brasileiro, o agronegócio representa um dos setores mais relevantes da economia, sendo responsável por uma parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, correspondendo a mais de 20% desse indicador econômico. De fato, trata-se de um setor estratégico para a estabilidade financeira e social do país (OLIVEIRA et al., 2015), gerando empregos, renda e contribuindo para a geração de divisas por meio da exportação de produtos agrícolas. Além disso, é importante destacar que o agronegócio está presente em todos os municípios do Brasil (IBGE, 2010), o que demonstra sua relevância em termos de distribuição territorial e desenvolvimento regional.
Devido a crescente demanda por alimentos e outros produtos, o setor agropecuário, junto com a necessidade de aumentar a produtividade, também se depara com o aumento das restrições para a expansão de novas áreas de uso agrícola e com a maior preocupação com a conservação ambiental. Com isso, será necessário a otimização de insumos, melhoria de técnicas de manejo, incremento de suplementação alimentar e a utilização de sistemas de produção em integração.
A alimentação do gado tem sido um foco relevante de ceticismo do consumidor. Questões como qualidade, segurança e rastreabilidade dos alimentos estão cada vez mais emergindo na cadeia produtiva, exigindo novos arranjos produtivos para atender os mercados consumidores. A preocupação é tão urgente que, em alguns casos, ações extremas como dietas que limitam o consumo de carne se tornaram realidade.
Para ter sucesso, devem ser considerados alguns aspectos importantes da produção de carne bovina, como bem-estar animal, conservação do solo e da água, redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) e sequestro de carbono, como a prestação de serviços ambientais em áreas de pastagem.
A atividade pecuária é uma fonte significativa de emissões de Gases de Efeito Estufa principalmente de metano (CH4), proveniente da fermentação entérica em ruminantes, óxido nitroso (N2O), devido ao uso da adubação nitrogenada, e ambos os gases, provenientes do manejo de esterco e da deposição de esterco em pastagens (O Mara, 2012). Além disso, há a emissão de CO2 em menor proporção, proveniente do uso de combustíveis fósseis e de energia nos sistemas de produção (O Mara, 2012).
Os sistemas de produção agropecuários, incluindo a pecuária de corte brasileira, são conhecidos por serem fontes significativas de gases de efeito estufa (GEE) que contribuem para o aquecimento global. No entanto, esses sistemas também podem funcionar como dreno de GEE e até gerar créditos de carbono, tornando-se benéficos para o meio ambiente.
Estudos recentes revelaram que a degradação das pastagens é o principal problema da pecuária de corte brasileira e está associada à emissão de GEE e à necessidade de maior quantidade de área para produção pecuária. No entanto, esses mesmos estudos mostraram que é possível produzir carne de forma sustentável e neutralizar as emissões de metano dos rebanhos de gado com a introdução de componentes arbóreos.
A Embrapa desenvolveu o conceito de "Carne Carbono Neutro" (CCN) para incentivar a implementação de sistemas de produção pecuária mais sustentável, introduzindo componentes arbóreos capazes de neutralizar as emissões de metano dos rebanhos de gado e aumentando o valor da carne produzida por esses sistemas. Além disso, o conceito também visa disseminar a importância estratégica da sustentabilidade nas cadeias produtivas relacionadas, incentivando a utilização de sistemas integrados que otimizem o uso de insumos e fatores de produção, gerando sinergias positivas.
O selo CCN confirma que o metano emitido pelos animais utilizados para a produção da carne foi compensado durante o processo a partir do crescimento das árvores no sistema. Além disso, a presença de sombra proporcionada pelas árvores garante que os bovinos se encontrem em um ambiente confortável termicamente, com bem-estar elevado. Assim, o selo Carne Carbono Neutro será aplicado às carnes cujas emissões de metano tenham sido atenuadas pelo componente arbóreo em sistemas de integração.
Em resumo, o conceito de Carne Carbono Neutro é uma abordagem promissora para a produção sustentável de carne bovina, que pode ajudar a reduzir as emissões de GEE da pecuária de corte brasileira e melhorar a qualidade de vida dos animais. Ao adotar essa abordagem, os produtores podem contribuir para a preservação do meio ambiente e ao mesmo tempo aumentar o valor de sua produção.
Sua empresa também pode contribuir com a neutralização das emissões de GEE, uma empresa carbono neutro é aquela que busca equilibrar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) com a redução dessas emissões ou com a compensação das mesmas por meio de ações que removem da atmosfera uma quantidade equivalente de GEE.
Para se tornar carbono neutra, uma empresa deve, primeiramente, identificar suas emissões de GEE, por meio da realização de inventários de emissões. Com base nessa avaliação, a empresa deve adotar medidas para reduzir as emissões, como a adoção de tecnologias mais limpas e eficientes, a melhoria da eficiência energética e o uso de energias renováveis. A empresa pode compensar suas emissões por meio da aquisição de créditos de carbono, que são gerados por projetos que reduzem ou removem GEE da atmosfera.
O inventário de emissões e o inventário de remoções são ferramentas fundamentais para o balanço de carbono em uma empresa ou organização. O inventário de emissões é uma avaliação que tem como objetivo identificar, quantificar e gerenciar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) decorrentes das atividades de uma organização, como o consumo de energia, o transporte de mercadorias e a produção industrial.
Já o inventário de remoções tem como objetivo identificar, quantificar e gerenciar as remoções de GEE da atmosfera decorrentes das atividades da organização, como o plantio de árvores e a implementação de práticas de conservação do solo. O inventário de remoções é importante porque, ao contrário do inventário de emissões, ele considera as ações que contribuem para a remoção de GEE da atmosfera, o que pode ajudar a compensar as emissões da empresa.
Ao realizar um inventário de emissões e remoções, a empresa consegue ter uma visão mais clara do seu impacto ambiental e das suas emissões de GEE. Com essas informações em mãos, a empresa pode identificar as áreas em que pode reduzir as emissões de GEE, bem como as oportunidades de implementar ações de remoção de carbono. O inventário pode ajudar a empresa a definir metas de redução de emissões e a monitorar o progresso ao longo do tempo.
Ao se tornar carbono neutra, a empresa demonstra sua preocupação com a sustentabilidade ambiental e social, além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e para a construção de um futuro mais sustentável.
Referências:
Brasília, DF: Embrapa - Carne Carbono Neutro: um novo conceito para carne sustentável produzida nos trópicos, 2015. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1056155/carne-carbono-neutro-um-novo-conceito-para-carne-sustentavel-produzida-nos-tropicos.
IV SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO DE RUMINANTES NO CERRADO.12 e 13 de abril, 2018, Uberlândia-MG. Anais [...]. Uberlândia: FAMEV UFU, 2018. 84 p. Tema: Eficiência Produtiva e Impacto Ambiental na Produção de Ruminantes. Inclui bibliografia.